Arquivo pessoal Nina Lemos testa o Bike Surf em Berlim "Bicicleta é amor." A frase da ativista colombiana Melissa Gomez pode parecer exagerada. Mas não no caso dela. Melissa é uma das "funcionárias" do Bike Surf, "loja" virtual que aluga bicicletas no esquema "pague o dinheiro que você tiver". A comunidade começou em Berlim em 2012. A ideia: permitir que quem não tem dinheiro para comprar ou alugar uma bicicleta use uma pelo valor simbólico de 50 centavos. Eles também emprestam bikes por mais de uma semana (você paga quanto puder). O projeto foi criado pelo irlandês Graham Pope em 2012. Hoje, em Berlim existem 50 funcionários fixos na "loja". Ninguém leva um centavo. "Recebemos muitas bicicletas. Doações não faltam. O que mais precisamos fazer é consertar as bikes, deixar com que elas fiquem possíveis de usar com segurança", diz Melissa, que trabalha porque ama ajudar as pessoas e ama bicicleta. "Você está ajudando as pessoas a serem livres, terem consciência da poluição, a ocuparem a cidade", diz. Os ativistas do Bike Surf já emprestaram bicicletas para mais de 500 pessoas e agora querem espalhar a iniciativa pelo mundo. Para eles, quanto mais cidades com um Bike Surf, melhor. Quem quer criar uma "filial" só precisa mandar um e-mail para a "central" e baixar no site do projeto a plataforma para criar a sua "loja" digital no mesmo modelo. "Você pode começar só com uma bicicleta, o importante é começar", diz Aurelie Pierre, uma francesa ciclista que se mudou para Berlim para trabalhar e descobriu o projeto quando, sem dinheiro, procurava por uma bike. "Eu me apaixonei." E se alguém no Brasil quiser criar um Bike Surf? "Por favor, por favor", as duas gritam. Fica a dica: é só mandar um e-mail. Vai lá www.bikesurf.org
Projeto Bike Surf empresta bicicletas grátis em Berlim
Lírio Ferreira, Felipe Cordeiro e Noemi Jaffe sobre o amor
Arquivo pessoal Lírio Ferreira, cineasta pernambucano, em cartaz nos cinemas com o filme Sangue azul King Kong (John Gillermin, 1976) Solaris (Andrei Tarkovsky, 1972) Bram Stoker's Dracula (Francis F. Coppola, 1992) * Divulgação Felipe Cordeiro, cantor paraense, autor do álbum Se apaixone pela loucura do seu amor "O último romântico" (Lulu Santos / Antônio Cícero / Sérgio Souza) "Trovoa" (Maurício Pereira) "Êxtase" (Guilherme Arantes) * Noemi Jaffe, escritora paulistana, autora do recém-lançado Írisz: as orquídeas (Companhia das letras) Riobaldo e Diadorim, em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa G. e Nusa, em G., de Jonh Berger Tristão e Isolda, mito-romance medieval
A deslumbrante sequência de Jessica Lange tomando banho de cachoeira guiada pelas mãos selvagens de Kong, embalada pela divina trilha sonora de John Barry, e a posterior excitação de ambos causada pela transparência das vestes da exuberante Ann é de uma beleza singular, daquelas que só o cinema tem o poder de nos revelar. Em tempo, Jessica Lange foi o primeiro amor platônico que o cinema me deu.
A cena final, quando o filho volta para casa e reencontra o pai falecido me marcou profundamente desde que a vi pela primeira vez. O melancólico olhar para o lago da infância, a casa com chaminé, o cachorro que o recepciona, a espreitada pela janela para o pai cozinhando até o derradeiro encontro na porta da casa seguida do posterior abraço ajoelhado flagrado pela câmera que sobe e revela o planeta Solaris formado por um imenso oceano é, para mim, além de uma explosão aquosa de afeto, o melhor final de um filme já rodado em todos os tempos
A cena em que Drácula (Gary Oldman) transforma a romântica Mina (Winona Rider) em vampira é a maior prova de amor de toda história do cinema americano. A doação da dócil personagem, a pseudo racionalidade inicial do Príncipe das Trevas e a posterior entrega final, não sem antes sussurar "take me away from all this dead..." fez meu coração ir às alturas. Bram Stoker's Dracula é o primeiro grande filme sobre a aids que eu vi.
A zona sul do Rio está na paisagem subjetiva deste pop perfeito e apaixonado. Lulu eternizou a canção, que atravessa os tempos por sua profundidade.
Com velocidade de rap, esta canção é uma ode alucinada e épica à mulher do autor Maurício Pereira. As imagens são raras, subjetivas e concretas como a cidade de São Paulo. Faz chorar de tão intensa e sincera.
De lirismo rasgado, e até meloso, a canção toca fundo. Os teclados que soavam 'datados' até bem pouco tempo atrás, se destacam, interessantes novamente. Arantes é um dos maiores hitmakers do amor.
"No caso desse amor tão impossível – de um jagunço por seu companheiro – o que me encanta é a confusão entre erotismo e amizade e a força da tradição oral, em que a palavra e a lealdade são valores ainda intactos. Tudo entranhado na linguagem também erótica, de tão poética, de Guimarães Rosa."
"Nesse romance estranho e genial, do inglês John Berger, G. é um tipo de Don Juan, capaz de sacrificar a própria vida por causas que não são suas. Nusa é uma eslava que, durante a primeira guerra, quer salvar a vida do irmão. O gesto de G. para ajudar Nusa é uma demonstração de erotismo e desprendimento plenos."
"Aqui, confundem-se destino e escolha. Os dois amantes se amam porque tomaram uma poção mágica que os fez se apaixonarem loucamente. Mas até que ponto a paixão é escolha? O fato de eles terem sido enfeitiçados muda o que sentem? Gosto dessa indiferenciação e de como ela se desdobra nessa história."
Lauro Henriques Jr. escreve sobre o amor transcendental
Arquivo Pessoal Lauro Henriques Jr. com um dos entrevistados do seu livro, o escritor Eckhart Tolle "Muitas pessoas passam a vida exigindo que o mundo as faça felizes. Mas o mundo não foi projetado para fazer você feliz. O mundo está aqui para torná-lo consciente." Esta frase, que me foi dita pelo escritor Eckhart Tolle, ilustra um denominador comum que pude observar nas conversas que renderam a série de meu livro Palavras de Poder: se depender de alguns dos maiores nomes do autoconhecimento no mundo, o onipresente clichê em matéria de amor – a frase "E viveram felizes para sempre" – deveria ganhar o acréscimo de uma palavra: consciência. Pois é justamente a consciência que, segundo esses mestres, nos permite viver o amor nas suas três dimensões essenciais. A primeira dimensão do amor (tão esquecida quanto mal interpretada) é esta: amar a si mesmo. Ao contrário de qualquer desvio narcisista – como tem sido a tônica nesses tempos de selfies e afins –, o amor a si mesmo seria o alicerce fundamental de tudo em nossa vida. Como me disse o xamã Don Miguel Ruiz: "Se você se comportar como mel, as abelhas virão até você e o tratarão como uma flor. Mas, caso acredite que é esterco e se comporte dessa forma, só as moscas virão até você". A relação que temos com o nosso próprio ser é que vai definir a qualidade dos relacionamentos que vamos atrair. O que já nos leva para a segunda dimensão do amor: a relação a dois. E aqui não tem Hollywood que salve; deixando todo o romantismo de lado, a visão das mais variadas tradições e linhas terapêuticas é unânime: o relacionamento afetivo é uma das escolas mais exigentes que existe. É um teste poderoso para avaliar se estamos aprendendo a lição que, em essência, nos trouxe aqui: aprender a amar. Como resumiu o psicoterapeuta José Ângelo Gaiarsa numa sacada genial: "Quem não se envolve não se desenvolve". É através do encontro amoroso que temos a oportunidade de transcender o nosso pequeno eu pessoal e nos doar ao outro. Um aprendizado que, em seguida, nos faz transcender a própria esfera da relação a dois, dirigindo o nosso amor a todos os seres. É quando começamos a ter uma percepção da própria experiência de comunhão com o todo. E entramos, então, no terreno da terceira dimensão amorosa: o amor por tudo o que nos cerca. Nós só amamos de verdade quando, indo além de nós mesmos, o nosso amor inclui o amor às pessoas, às plantas, aos animais e a todas as outras formas de vida. Nesse sentido, uma definição para o amor seria esta: amor é a consciência em ação. É compreender que, em última instância, a ligação que temos com cada pessoa e cada ser vivo é o próprio elo que nos une a Deus. A partir dessa consciência, não precisamos mais nem falar sobre o amor, pois ele já é uma manifestação viva em nossa vida. E daí, sim, podemos concluir nossa história com um sonoro e legítimo: "E viveram felizes – e conscientes – para sempre". Vai lá: www.palavrasdepoder.com.br Rubem Alves Frei Betto Monja Coen Ian Mecler Claudio Naranjo Dom Laurence Freeman
As várias faces da experiência amorosa
"Amamos não a pessoa que fala bonito, mas a pessoa que escuta bonito.O aprendizado do ouvir é uma das coisas mais importantes para o aprendizado do amor. Como é que eu posso conhecer a intimidade do outro, a verdade de quem ele é, se não paro de tagarelar? O ato de ouvir exige humildade, implica admitir que o outro tem coisas novas para me mostrar."
"Deus é amor. Mais importante do que ter fé, frequentar templos, é amar. Como disse o apóstolo Paulo: ‘Ainda que eu tivesse fé capaz de transportar montanhas, se não tivesse o amor isso de nada me serviria’. Nesse sentido, mais vale um ateu que ama do que um crente que odeia e discrimina. O amor é a raiz e o fruto de toda verdadeira religião."
"A experiência vivida por todos os grandes místicos é a consciência da não separação, de que estamos todos interligados. Quando se percebe isso, nossa capacidade de relacionamento muda na hora. É importante que cada ação nossa seja uma ação amorosa, que transforme a realidade."
"Mais do que posses ou títulos, o tempo que passamos numa convivência de amor é que dá sentido à existência. Por exemplo, num leito de morte, você nunca ouve a pessoa dizer: ‘Ah, que pena que não comprei aquele carro novo’. Ouve-se algo como: ‘Que pena ter brigado tanto com minha família, que não perdoei meu amigo’. Isso é algo de que não podemos nos esquecer: de aproveitar cada chance para sermos mais amorosos."
"Todas as grandes tradições consideram um sinal de amadurecimento espiritual o fato de você ser solidário, de conectar-se com aquilo que vai além de sua própria personalidade, de interessar-se pelo bem comum. Um potencial amoroso que inclui a própria natureza e todo o universo que nos cerca."
"A verdadeira natureza do amor é a atenção. Nós amamos aquilo a que prestamos atenção, e nós prestamos atenção àquilo que amamos."
Presos de Rondônia usam chá de Santo Daime e terapias alternativas
Divulgação/Acuda
Associação fica em Rondônia
O Santo Daime pode ajudar na reabilitação de criminosos? É essa uma das ideias da Acuda, em Rondônia, associação que além de oficinas de marcenaria e de inclusão digital oferece aos presos da região vivências de meditação, yoga, rituais católicos, espíritas e evangélicos, e também o Daime. "Eles têm que ir em todas as atividades para assim entendê-las", afirma Luiz Henrique, que criou a ONG em 2001. Os presos que participam do projeto cumprem pena fechada e são escolhidos em uma pré-seleção.
Luiz conta que a inciativa não é assim tão bem vista. "Nosso país confunde vingança com justiça", afirma. Mas isso não o faz desistir de continuar com o trabalho. Sobre o uso de ayahuasca, diz: "Na minha cabeça é mais difícil de se ressocializar uma pessoa na cadeia. O Santo Daime provoca que você entre na sua consciência. Muitos dos presos têm a visão de tudo que fizeram, é um processo muito doloroso. Para mim, só assim eles poderão se curar."
Preso por tráfico de drogas, Paulo Rodrigo, de 31 anos, acha que já "teria pirado" não fosse a Acuda. Para ele, a técnica mais importante que aprendeu foi a de massoterapia, ainda que fique em dúvida entre a yoga e a meditação. "Nas terapias nós temos que doar e receber, precisa desse equilíbrio. Isso me ajudou a conhecer meu corpo", conta. "Na cadeia não temos esse esse tempo para a gente, então é importante, é um processo de autoconhecimento."
Divulgação/Acuda
Aplicação da terapia Reiki
Romualdo Tristão, de 48 anos, conheceu o projeto quando ainda estava no presídio e hoje trabalha lá. A vivência terapêutica não só foi responsável por diminuir um pouco os seus dias em regime fechado, como também mudou sua vida. "No começo eu fui resistente, principalmente pela massagem. Outro homem passar a mão no meu corpo? Credo! Depois percebi o quanto eu era ignorante comigo mesmo. A gente vai ficando mais humano."
Ele jura que a experiência espiritual com a ayahuasca o fez enxergar o mal que existia dentro dele."Da primeira vez, achei que eu ia morrer. O trabalho me mostrou muita coisa que me deixou assustado, mas que foi importante para entender meus erros." Segundo Luiz, mesmo durante as terapias, os presos estão cumprindo suas penas. "Nosso trabalho é a desconstrução do mundo do crime, se o detento entende que o mal que ele fez com o outro, ele faz consigo mesmo, ele tem mais chances de ser curado", finaliza.
Divulgação/Acuda
Presos em sessão de massagem ayurvédica
Prisões que se transformaram em pontos turísticos
1. Como em Hollywood_ Imortalizada em Fuga de Alcatraz (1976), com Clint Eastwood, a prisão da Ilha de Alcatraz, em San Francisco, é uma atração disputada, administrada pelo National Park Service, órgão que cuida dos parques dos Estados Unidos.
2. Prisão do fim do mundo_ Lá no sul da Argentina, um museu conta a história da cadeia construída em Ushuaia em 1902 porque o endereço anterior, na Isla de los Estados, era muito extremo. Entre as lendas do local, dizem que até Carlos Gardel passou ali.
3. Uma noite na cadeia_ O hotel Karosta Prison, na Letônia, foi usado como prisão por nazistas e soviéticos e oferece aos hóspedes uma experiência completa, com grades de ferro e até exercícios físicos forçados. Para se hospedar, é preciso assinar um documento aceitando as condições.
4. A casa do Mandela_ A Ilha Robben, na África do Sul, foi usada por mais de 300 anos como lugar de cativeiro. O preso mais famoso, Nelson
Prision Architect: game que administra cadeias
No jogo como na vida: há rebeliões violentas na prisão digital
Há tempos que a população carcerária está agitada. Gastou-se muito implementando as novas instalações e sobrou pouco para comida, salário dos agentes, cursos de reciclagem. A tensão começou a subir e um preso bastante pacífico esfaqueou dois outros no banheiro. Fui beber água, voltei ao computador e absolutamente toda a população carcerária havia se revoltado, assassinado os agentes, incendiado a prisão e degolado o prisioneiro de alta periculosidade. Olhei para os lados, apaguei o save e comecei de novo.
Esse é Prision Architect, o simulador de administração carcerária criado pela Introversion Software. O jogo ainda não chegou a sua versão final, prevista para dezembro, mas já teve mais de 30 atualizações e está quase lá. Na última, incluíram o corredor da morte. Conscientes do assunto espinhoso, os desenvolvedores criaram um sistema que tenta passar ao jogador o peso de uma decisão dessas.
Tudo em Prision Architect funciona deste modo: as decisões têm peso e influenciam o bem-estar dos presos e dos agentes carcerários. Tenha uma prisão mais humana e lide com menos revoltas. Sujeite os presos a condições degradantes e veja o contrabando, os assassinatos e as brigas escalonarem até o fim trágico de sua prisão. Há literalmente centenas de coisas para prestar atenção, do encanamento à eletricidade, da educação dos agentes ao tipo de comida, do lazer que se oferece à qualidade de cada cela. Com o tempo, você conhecerá os prisioneiros e seus dramas, descobrirá quem está tentando fugir e quem pode delatar os colegas. Imensamente difícil e viciante, Prision Architect pode ser adquirido no site da desenvolvedora ou pelo sistema Steam de jogos para PC.
A prisão de Pablo Escobar, construída pelo próprio
Pablo Escobar (à dir.) posa de gângster em Las Vegas, ao lado do primo Gustavo Gaviria
Chamava-se La Catedral. Ficava nas montanhas, a cerca de meia hora de Medellín, com vista privilegiada da cidade. Durante um ano, entre junho de 1991 e julho de 1992, foi a morada do maior traficante de drogas da história: Pablo Escobar.
Quando se entregou à polícia colombiana (fruto de um acordo com o Governo que invalidava a lei de extradição vigente no país), Escobar impôs condições, aceitas pelo então presidente César Gaviria. A principal delas era ser recolhido numa prisão construída por ele mesmo, no lugar que escolhesse (um terreno que pertencia ao próprio Escobar), vigiada por seus homens e sem restrição de visitas – que subiam à sede em confortáveis Toyota Land Cruiser de carroceria vermelha e cabine branca.
“Eu achava que meu pai ficaria alguns anos ali, deixaria de cometer crimes, se recuperaria, para então voltar para casa”, conta por telefone Juan Pablo Escobar, filho do traficante e autor do recém-lançado Pablo Escobar, meu pai – As histórias que não deveríamos saber (editora Planeta). “Mas com o passar do tempo se tornou mais e mais evidente que, em La Catedral, meu pai trataria de reorganizar seu aparato militar e redesenhar as rotas do narcotráfico.” Juan Pablo conta que quando perguntou sobre o lugar para sua mãe, ela disse: “Meu filho, é como se fosse uma das nossas fazendas”.
De fato, La Catedral contava com mesas de bilhar, de pingue-pongue, campo de futebol equipado com sistema de drenagem – jogadores da seleção colombiana como o goleiro René Higuita e o atacante Faustino Asprilla eram presenças cativas. A comida era preparada por três chefs. Havia um médico da família, sempre disponível. Uma varanda semicoberta dava acesso às celas-suítes. A de Pablo tinha um cômodo de 25 metros quadrados na entrada e mais 25 metros de quarto, além de banheira, sauna, escritório com escrivaninha, sofá, pele de zebra no piso e lareira maravilhosa.
Em julho de 1992, porém, tudo chegou ao fim. A execução de dois comparsas acusados de traição tornou insustentável a permanência de Escobar na Catedral. Ficou decidido que ele seria transferido para outra prisão, mas o traficante não aceitou. Fugiu com nove homens por uma saída secreta que ele mesmo mandara construir – Escobar seria morto um ano depois, em 2 de dezembro de 1993, em Medellín, aos 44 anos. Hoje, no lugar onde ficava La Catedral, funciona uma comunidade beneditina.
Quarto de Pablo Escobar na prisão La Catedral
As colagens de Tyler Spangler
Divulgação
"Eu quero fazer as pessoas sorrirem, rirem e ficarem um pouco assustadas", conta o artista americano, que começou a desenhar tentando copiar games e filmes de terror. Depois, pintou pranchas de surf. Também fez cartazes para bandas de punk. "Isso [a cultura punk] me inspirou a continuar fazendo coisas mesmo que elas sejam terríveis e eu não seja bom nisso", diz. "Me fez pensar ‘quem se importa que eu vou aprender isso e colocar isso no mundo’ e ‘eu não ligo para o que as pessoas pensam’." Tyler mora na praia, em Pacific Palisades, na Califórnia, e faz suas ilustrações no computador. "Eu adoro trabalhar com o digital. É rápido, eficiente e limpo", afirma. "Como qualquer outro meio, você tem que experimentar para chegar ao efeito que quer." Outras obras dele estão nas colunas desta edição.
Vai lá: tylerspangler.com
Paul Mason e o universo utópico pós-capitalista
Arquivo Pessoal
Paul Mason
Conversar com o inglês Paul Mason (foto) é ter acesso a um mundo que ainda não existe, mas está próximo. Máquinas farão o trabalho que hoje é executado por operários, atendentes de telemarketing, motoristas. As pessoas poderão se envolver mais em atividades produtivas, e todos serão “ricos” para ter um smartphone novo ou um carro elétrico.
É nesse cenário, abordado no livro Postcapitalism, que, segundo Mason, o capitalismo não existirá mais. Para o autor e editor de economia da BBC, estamos no caminho de uma revolução que, se bem conduzida, nos levará a uma utopia. Em vez do desemprego generalizado e da crise social e do meio ambiente — o futuro que temem alguns —, Postcapitalism argumenta que iniciativas colaborativas e pequenas cooperativas podem “libertar” todos de um sistema em que trabalhamos muito para comprar coisas demais.
O que será a utopia do pós-capitalismo? Não penso nisso como uma utopia. O objetivo principal é promover abundância — primeiro de informação, depois de tudo que pode ser barateado. Matérias-primas e energia continuarão escassas, mas, como [o economista John Maynard] Keynes, eu argumento que a vida irá mudar e não será mais dirigida pela necessidade.
Quais novos negócios irão prevalecer?A Wikipedia e cooperativas de produtores são os verdadeiros embriões do novo modelo de negócios. Para o capitalismo sobreviver, precisaria encontrar uma solução para o cenário no qual a automação em massa acontece [e os empregos acabam]. Eu não acho que possa.
Haverá mesmo um tempo em que tudo custará quase nada? Sim, exceto matérias-primas e energia. A única maneira de escapar do “custo marginal zero” será comercializar o trabalho humano a um nível mais micro — coisas como venda de sexo, cuidados infantis, assistentes pessoais. Mesmo assim não será algo de grande valor.
Como o pós-capitalismo vai lidar com as mudanças no clima? Se não fosse o desafio do clima, o pós-capitalismo poderia ser um projeto lento. Mas é preciso medidas decisivas para mitigar a mudança climática. Isso significa que os governos devem intervir antes para suprimir as forças de mercado ou reformulá-las para incentivar o consumo de energia sem emissões de carbono.
O que você acha dos pessimistas que veem o futuro como uma crise eterna de desemprego, desigualdade e problemas climáticos? É esse exatamente o futuro se continuarmos indo como estamos. No livro, eu tento projetar uma solução holística baseada em objetivos, não sonhos.
Ethereum, plataforma que permite criar contatos reais em rede virtual
Arquivo Pessoal
Equipe de Ethereum em Zug, na Suíça
No começo de 2015, a negociação de um imóvel na cidade de Uberaba, em Minas Gerais, foi parar na Justiça por ter se desenrolado em trocas de mensagens via WhatsApp. A disputa nem existiria se a venda fosse feita por algum aplicativo do Ethereum, plataforma que permite criar contratos reais em uma rede virtual de computadores, seja selar um casamento, estabelecer uma sociedade ou até fundar seu próprio país. Soa utópico? "Se você está querendo falar de utopia, você veio ao lugar certo", afirma Alexandre van de Sande, único brasileiro no projeto.
No Ethereum, cada contrato funciona como um software que executa aquilo para que foi programado. As cláusulas dão lugar a linhas de código. E, em vez de cartórios, corporações ou governos, a plataforma é o mediador. A rede garante o desempenho do sistema e evita ataques, adulterações ou censura. "A gente está descentralizando a ideia inicial da internet", diz Alexandre. Aplicando teoria à prática, ele trabalha no Rio de Janeiro em contato com colegas na Alemanha, Holanda e Suíça, base da fundação Ethereum.
A primeira versão da plataforma foi publicada na última semana de agosto somente para desenvolvedores. Alguns projetos têm ganhado forma, como o Maker, um sistema de moedas digitais, o Slockit, para aluguel de propriedades, e o Mist, um navegador descentralizado — projeto de Alexandre, que largou seu emprego na startup que ele mesmo havia criado para trabalhar com o Ethereum em outubro de 2014.
Para Bruno Balduccini, sócio do escritório Pinheiro Neto, o Ethereum é uma iniciativa válida e, com registros escritos, mais forte que contratos verbais. "Mas tem uma questão de compreensão mundial: se essa tecnologia será aceita como segura", ele afirma. Por isso, as transações na plataforma estão sujeitas à regulação local e discussões técnicas.
Alexandre concorda com críticas de que não é possível terceirizar tudo aos códigos nos quais trabalha dia e noite. "Eu não acredito que em dez anos a gente vá substituir o governo por robôs", diz. "Mas por que uma cidade pequena não poderia experimentar pagar os seus professores usando a plataforma?" Para ele e seus colegas, o Ethereum é uma resposta de matemática exata às incertezas de gestões que determinam nossa vida pública. Na sua cabeça de desenvolvedor, a plataforma é uma atualização da sociedade. "O Ethereum não é uma alternativa, mas, sim, um upgrade à democracia."
Biografia dos criadores da estética da música eletrônica
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Produções eletrônicas e timbres sintéticos hoje são o padrão da música pop em todo o mundo, mas uma banda sem instrumentos tradicionais era uma ideia revolucionária — até utópica — quando o Kraftwerk passou a se apresentar assim, na década de 1970.
Deu certo: a influência do Kraftwerk é enorme, sentida até hoje em diversos gêneros da música popular.
A importância da banda alemã é ressaltada pela biografia Kraftwerk: Publikation (Seoman), de David Buckley, que chega agora ao Brasil e conta detalhes históricos e dos bastidores do grupo, que é bastante reservado. Embora não tenha entrevistado os fundadores Ralf Hütter e Florian Schneider, Buckley conversou com ex-membros, incluindo Karl Bartos e Wolfgang Flür, que estiveram na primeira formação do grupo em versão eletrônica (nos primeiros discos, a sonoridade do Kraftwerk era mais orgânica, com instrumentos tradicionais).
Bartos, que esteve 15 anos na banda, afirmou que este é o primeiro trabalho sério sobre o Kraftwerk. Buckley também analisa o contexto em que o grupo surge, na Alemanha Ocidental do pós-guerra, quando os jovens alemães buscavam criar referências artísticas próprias — outras bandas da época, do que foi chamado pela imprensa britânica de krautrock, incluem nomes como Can, Neu! e Faust.
A edição brasileira tem texto de apresentação do jornalista e DJ Camilo Rocha, especialista em cultura eletrônica, e prefácio do músico e produtor Paulo Beto. O livro conta também com uma discografia selecionada da banda e um guia para suas 20 músicas essenciais.
O sonho do skate voador
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O sonho do skate voador quase se materializou recentemente com o Slide, hoverboard apresentado pela marca de carros de luxo Lexus. Quase. Embora o apetrecho seja real e não uma completa invenção como outros vídeos que surgiram este ano (afinal, 2015 é o ano em que Marty McFly faz suas manobras sem rodinhas em De volta para o futuro 2), ele não é completamente real: o skate voador da Lexus voa, mas apenas em uma pista feita com superfícies magnéticas. No concreto cotidiano em que os skates normais rodam, não.
E o Slide em si não será vendido. Foi construído apenas como publicidade para vender mais carros da marca, que é uma divisão da japonesa Toyota. Por outro lado, só o fato de ter sido construído – um pequeno e bonito hoverboard funcional – mostra como evolui a tecnologia de supercondutores usada no projeto e prova que, no fim, o sonho de skates como esse produzidos em massa talvez não seja uma utopia. Todos aguardamos.
A República Livre de Liberland, uma micronação
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Às margens do Danúbio, num pedaço de terra esquecido por uma disputa de fronteiras entre Croácia e Sérvia, o político e ativista tcheco Vít Jedlička fundou, em maio, um novo país: a República Livre de Liberland. A micronação de 7 quilômetros quadrados ainda não foi reconhecida por ninguém, mas já atraiu vários moradores com a promessa de ser um paraíso libertário em que o governo terá poder limitadíssimo, se preocupando apenas com segurança, questões legais e diplomacia. Aos interessados, é possível pedir cidadania no site do governo de Liberland.
Vai lá: liberland.org
As novas estéticas do pornô acabam com o universo playboy
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A pornografia é utópica? Talvez já tenha sido. Fato é que no século 21 ela se afasta dos estúdios espetaculosos e substitui camas redondas e lençóis de cetim por edredons amontoados num canto do quarto. Via webcam, e muitas vezes mediada por uma conta no PayPal, a pornografia pós-internet tem como um de seus principais pressupostos a diversão de quem a pratica — pessoas dispostas primeiro a realizar suas vontades e, depois, conforme ficarem as imagens, proporcionar a nossa alegria, muitas vezes chamando à interação.
Um caso é o da japonesa pink_part__, no Instagram (foto). Lasciva sem perder a ternura, nos remete às fotografias de Nobuyoshi Araki e ao erotismo das gravuras de Hokusai, como a obra-prima The Dream of the Fisherman’s Wife (1814). Seus autorretratos, desenhos e colagens exibem um universo coerente e particular. Bananas sugestivas, membros escondidos por cachos de uva ou sabonetes de ursinho se misturam a rendas e trocas de carinho.
Outra experiência, mais ativa, é o Chaturbate, site que proporciona interações ao vivo, via câmera e chats, entre quem estiver on-line, incluindo casais ou grupos. Alguns membros mais empenhados fazem aparições que chegam a durar 24 horas, assistidas por milhares de pessoas.
Beatriz Preciado, no livro Pornotopia (2010, Anagrama, ainda sem edição no Brasil), conta como o compartilhamento de fotos de mulheres nuas teve início na Primeira e na Segunda Guerra, com a missão de entreter o espírito dos soldados no campo de batalha. O sucesso dessa empreitada do exército americano e o aumento significativo do número de solteiros estão entre os principais estímulos que inspiraram Hugh Hefner a criar a Playboy.
Ao desenvolver um aparato sensível disposto a entreter mentes em massa, a Disneylândia masculina de Hefner foi responsável por popularizar a pornografia. Por mais que a revista tenha tido seu pioneirismo, Preciado ressalta que, após a internet, a Hefner e seu universo só resta a nostalgia.
Mais verdadeira ou não, hoje a produção de pornografia é vasta e pode exigir um pouco mais do espectador. O investimento compensa. Nos estilhaços das utopias, a diversão ganha em complexidade.
Photographic Museum of Humanity: Museu on-line de fotografia contemporânea
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Kombi do Photographic Museum of Humanity na Mano del Desierto, no deserto do Atacama
A Kombi azul com placa do Brasil já atravessou estradas de terra desertas na Bolívia, passeou pelo Rio de Janeiro em pleno Carnaval, correu os pampas e as praias do Uruguai. Esteve também no Chile, no Paraguai, na Argentina. Dentro dela, o italiano Giuseppe Oliverio leva seu projeto de fotografia contemporânea — ou pelo menos a ideia. O projeto, mesmo, é um site: o Photographic Museum of Humanity, ou museu fotográfico da humanidade. A Kombi, uma forma de divulgá-lo.
"A função da van é conectar o mundo virtual com o mundo real, nos levar pessoalmente até as pessoas com quem estamos em contato ou com quem poderíamos estar em contato pela plataforma", conta Ignácio Coló, um dos editores e curadores do museu. "A Kombi simboliza essa união."
Fundado em agosto de 2012 por Oliverio, o Photographic Museum of Humanity se autodenomina o "primeiro museu da internet dedicado à fotografia contemporânea" e fez sua primeira exposição no começo de 2013. A ideia do espaço expositivo digital é mostrar a arte da fotografia para um público mais jovem, fora dos espaços físicos tradicionais de galerias e museus. Com os fotógrafos argentinos Coló, Alejandro Kirchuk e Nicolas Janowski como curadores, além do próprio Oliverio, o projeto organiza, todo mês, exposições de fotógrafos profissionais.
De Kombi pela América do Sul, eles ainda fazem seu próprio material. "É uma oportunidade para viajar, para conhecer, mas usamos essas também para produzir imagens, não só para divulgar", conta Coló. O carro foi mesmo comprado no Brasil, em Jundiaí, porque o modelo não é produzido nos países vizinhos (depois, ano passado, deixou de ser produzido aqui), e fez sua viagem inaugural até Buenos Aires, onde a equipe do Photographic Museum of Humanity mora.
O grupo volta para o Brasil este mês: Oliverio e Janowski darão um workshop no festival de fotografia Paraty em foco no dia 26 de setembro. "Mas dessa vez vamos de avião", diz Coló.
Vai lá: paratyemfoco.com e phmuseum.com
Escritor Daniel Galera fala do mundo pós-utópico de romances cli-fi
Alison's Adventures/Caters News Agency
Não é ficção: Thilafushi, uma ilha artificial, nas Maldivas, feita de lixo
O que pode significar, para a ficção, a derrocada do mundo em que vivemos e morremos? Essa pergunta ganha novos contornos diante dos efeitos da mudança climática e dos cenários de catástrofe que proliferam em nosso imaginário desde a virada do milênio.
Evidência disso é a popularização do termo cli-fi, contração de climate fiction, ou ficção climática. Embora o autor norte-americano Dan Bloom reivindique para si a invenção do termo em 2007, o conceito de um subgênero de ficção científica dedicado a especular sobre os efeitos da mudança climática não é novo. No início da década de 1960, por exemplo, o grande escritor inglês J.G. Ballard publicou uma série de romances centrados em desastres naturais. Em The Drowned World (1962), a radiação solar derrete as calotas polares e inunda cidades inteiras.
Em uma de suas sacadas visionárias, Ballard mostra a catástrofe climática provocando a dissolução da distância psicológica que nos separa da natureza lá fora. Hoje, um conjunto de evidências cada vez maior associando a ação humana às alterações violentas no clima e nos ecossistemas leva muitos cientistas e filósofos a defenderem a adoção do termo Antropoceno para nomear a era atual do planeta. Mais do que mero organismo habitante, o homem figura como força geológica com responsabilidade direta sobre as condições de vida na Terra.
Em um artigo publicado em 2013 no jornal The Guardian, o escritor Rodge Glass apontou uma diferença entre a ficção científica clássica e a literatura cli-fi. Enquanto a primeira gira em torno de possíveis descobertas do futuro, a segunda lida com questões imediatas, apenas intensificando o que já se faz sentir no presente. A ficção climática ganha força à medida que as catástrofes ecológicas saem do domínio da especulação pós-apocalíptica para ocupar outro lugar no subconsciente das pessoas. O sentimento que esses escritores traduzem não é o medo da catástrofe, mas a noção, ainda pouco articulada no discurso cotidiano, de que ela já aconteceu.
Vemos isso em obras recentes de escritores como Margaret Atwood e David Mitchell, que em seu romance The Bone Clocks (2014) imagina a vida no ano de 2042, depois que a maioria dos desastres ecológicos previstos hoje pelos cientistas se tornou realidade. Resta saber se obras desse tipo se tornarão previdentes ou datadas como um desenho dos Jetsons.
Em todo caso, o desafio da literatura contemporânea é não recair em cinismo à medida que desabam as utopias de um mundo melhor, entre elas a da harmonia com a natureza e a do crescimento econômico e demográfico ilimitado, apoiado em milagres tecnológicos. Os impasses ecológicos e filosóficos desse século exigirão que abandonemos o antropocentrismo sem jogar fora o humanismo. A visão dos ficcionistas, creio, terá papel valioso nessa empreitada.
Série Mad Dogs
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Com um episódio em formato de filme documentário e outros dez mais curtos, a série Mad Dogs, que estreia este mês no Off, narra como três baianos foram pioneiros em pegar as ondas gigantes de Jaws, em Maui, sem a ajuda de jet skis ou qualquer outro equipamento.
Danilo Couto, Marcio Freire e Yuri Soledade chamaram a atenção ao serem pioneiros em remada nessas ondas num momento em que o tow-in dominava. Por entrarem no mar somente com paixão, sem coletes e sem resgate, eles acabaram ganhando da comunidade de Maui o apelido que dá nome à série, “cachorros loucos” em inglês.
Em 2011, Danilo encarou uma onda de 55 pés, na época a maior já remada, vencendo o Billabong XXL Big Wave Awards. “É raro no surf uma história como essa, feita por caras que não tinham patrocínio, que tinham que trabalhar o dia inteiro”, diz o diretor Roberto Studart.
O grupo também teve problemas de patrocínio, boicotes e exclusão de campeonatos. “A série vai além de mostrar só o lado bom do surf”, afirma o diretor.
Mad Dogs foi filmada durante 57 dias, no Havaí, e conta com entrevistas de grandes nomes do surf, além de muito material de arquivo, para traçar essa história, desde o final dos anos 90. “As imagens estão incríveis, fomos gravar com muitos equipamentos, câmeras espalhadas por todos os cantos. Só não tinha helicóptero”, diz Roberto.
A possibilidade de uma segunda temporada não foi descartada pelo diretor. “Eles ainda estão surfando, isso é só uma parte de uma história que ainda está sendo escrita.”
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Novo cd Karina Buhr
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Capa do novo cd
Em meio ao lançamento do seu terceiro álbum, Selvática, neste mês, Karina Buhr acabou vítima de censura no Facebook: a capa foi malvista e rotulada como “imprópria”. Tudo porque a cantora resolveu estampar seus peitos, assim, descobertos. A cantora garante que não tá mostrando nada, “apenas estou sem camisa”, mas a patrulha não liberou. Em entrevista à Trip, Karina fala sobre seu novo disco, polêmicas na internet e tenta entender a complicada relação entre sexo e tecnologia.
Quais as expectativas para o lançamendo de Selvática? Quero que ele se espalhe muito e quero fazer muitos shows por todo lugar. O disco está mais pesado que os outros. Gravamos baixo, bateria, teclado sempre juntos e a maioria das vozes também gravei ao vivo, com eles.
A patrulha do Facebook chegou na sua capa. Ao mesmo tempo, a nudez nunca foi tão exposta no mundo digital. Essa dicotomia tem a ver com machismo. A nudez que é aceita é aquela em que a mulher é oferecida como produto. Quando uma mulher tira a roupa com naturalidade, ou amamenta seu filho, isso incomoda. Leio toda hora “Karina Buhr mostra os seios em capa”. Não estou “mostrando” nada, apenas estou sem camisa.
A internet está mudando a forma como as pessoas lidam com sexo? Isso muda o tempo todo, quando muda a forma de comunicação. Tudo está muito ao alcance e se, por um lado, existe uma liberdade maravilhosa, existem também os abusos.
E os apps como o Tinder? Não entrei nessa, não funciono desse jeito. Também não vejo problema nenhum em quem gosta. Se tem uma coisa que ninguém vai desaprender é a flertar. Há novas maneiras de agir, mas é tudo parte da mesma coisa.
Manda nudes? Sim, até na capa do disco! Acho lindo corpo, por mim a gente tirava a roupa onde quisesse, por qualquer motivo. Tomar banho de mar e de rio sem roupa é das coisas mais deliciosas da vida, que raramente a gente pode fazer – e se a polícia passa ainda leva a gente presa. Por falar em polícia, é legal não esquecer do grande trabalho que temos pela frente, de mudanças de paradigmas (e aqui vem o machismo de novo) pra que as pessoas não se sintam à vontade em divulgar imagens de outras sem o consentimento.
Zé do Caixão ganha exposição no MIS, em São Paulo
Divulgação/Acervo Marcelo Colaiacovo Ensaio do filme Delírios de um anormal, de 1978 A partir do dia 31 de outubro, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo apresenta a mostra À meia noite levarei sua alma, que traz um panorama completo da obra do cineasta José Mojica Marins. Em um ambiente escuro, que remete aos filmes de Zé do Caixão, será apresentada uma seleção de figurinos, roteiros, objetos cênicos, colagens, trechos de filmes, imagens de bastidores e curiosidades, como um dos flyers de sua candidatura para deputado em 1982 e brinquedos inspirados no personagem. Vai lá: Museu da Imagem e do Som. Av. Europa, 158, São Paulo. A partir de 31/10. mis-sp.org.br
Boneca de sexo com inteligência artificial
Divulgação A linha de produção de RealDolls, na Califórnia Assistir ao jogo de sedução entre Rick Deckard e a replicante Rachel em Blade Runner é o tipo de cena que provoca sentimentos dúbios: afinal, como não se encantar com uma androide tão sedutora, em conflito com sua existência artificial? Por que a ideia de transar com uma boneca é perturbadora e, ao mesmo tempo, sexy? Ainda há tempo para que realidade se aproxime da ficção (Blade Runner se passa em 2019): a fabricante californiana de sexbots Abyss Creations, que faz as RealDolls, anunciou em junho que está desenvolvendo um novo projeto chamado Realbotix, uma boneca de silicone com tecnologia de inteligência artificial. Com isso, a Abyss pretende criar companheiras que não apenas se submetam sexualmente aos seus donos, mas que respondam a comandos de voz e interajam verbalmente, com direito a gemidos e expressões faciais. Divulgação A linha de produção de RealDolls, na Califórnia A Realbotix, por enquanto só uma cabeça robótica, começa a ser vendida até 2017, custando US$ 10 mil. O preço da boneca de corpo inteiro deve ficar mais perto dos US$ 5o mil. Apesar de o objetivo ser a “humanização” das RealDolls no dia a dia, o fundador e CEO da Abyss, Matt McMullen, garante que o visual continuará de boneca. Afinal, essa é uma das características mais excitantes para quem gosta de sexo, mas evita se relacionar com pessoas. AO Vai lá: realdoll.com