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A aventura de Marcatti, lenda do quadrinho underground brasileiro, vira livro

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Marcatti e sua paixão, a impressora

Marcatti e sua paixão, a impressora

Em tempos de Feira Plana e autopublicação a mil, conhecer a trajetória de Francisco Marcatti pode ser inspirador. Escrita pelo jornalista Pedro de Luna, a biografia Tinta, suor e suco gástrico, lançada pela Marsupial Editora, esmiúça detalhes da vida e obra do quadrinista paulistano, um dos símbolos do nanquim udigrúdi do país.

“Conheci o trabalho do Marcatti na mesma onda que revelou Laerte, Glauco e Angeli. Além das histórias e do traço inconfundíveis, fiquei encantado com sua forma de lançar e vender revistas de maneira independente”, diz Luna. “Acho que esse foi seu principal legado. Mesmo tendo publicado por uma ou outra editora, ele ficou conhecido como um quadrinista que desenha, imprime e vende por conta própria.”

Capa do quarto disco do Ratos de Porão,

Capa do quarto disco do Ratos de Porão, ''Brasil''

Em 1977, ano do levante punk, Marcatti era um adolescente de 15 anos. Ninguém sai ileso disso, claro. Embora fosse fã de blues, a efervescência do punk (e seus fanzines) o cativou. Ao longo dos anos 80, o quadrinista criou uma série de publicações alternativas cujos nomes ecoavam o movimento: Lôdo, Refugo, Tralha, Pântano e Mijo eram algumas delas. “Ele era para mim uma espécie de Crumb, de Gilbert Shelton”, comenta Luna.

Sempre ligado a temas escatológicos, foi em 1989 que o trabalho de Marcatti ganhou maior projeção, quando um de seus personagens (magrinhos, sórdidos e narigudos) estamparam a capa de Brasil, quarto disco da banda Ratos de Porão. Começava aí uma parceria duradoura. São de Marcatti as capas de Anarkophobia e No Money no english, além de uma revista em quadrinhos inspirada em João Gordo e cia.

Para Marcatti, o seu desenho tem todas as características do desenho infantil: traço grosso, olho grande, muita expressão de rosto, mãozinha redonda. “Só que é peludo e sujo”, ri.

Paralelo ao trabalho de quadrinista, corre o de produtor gráfico. Luna conta que Marcatti não enveredou para as tiras de jornal, como outros de sua geração, mas especializou-se como poucos nas artes gráficas. Em seu coração, diligentemente talhado numa off set, além de impressoras, há espaço para cineastas como Alfred Hitchcock e personagens como Mortadelo e Salaminho (criações do espanhol Francisco Ibañez).

Hoje, aos 53 anos, Marcatti trabalha numa empreitada épica: a adaptação para os quadrinhos dos cinco volumes de Os miseráveis, clássico de Victor Hugo. “Acho que serão mais de 700 páginas”, calcula. Uma coisa é certa: seja em São Paulo ou na Paris do século 19, Marcatti segue chafurdando no esgoto do real para trazer à luz suas criaturas sujas e marginais, um tipo de escória que só encontra forma nas suas HQs.

Vai lá! Tinta, suor e suco gástrico, de Pedro de Luna, 80 págs., Marsupial Editora



Levantamento de livro: calhamaços pra te deixar tão forte quanto inteligente

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Graça infinita, obra-prima do norte-americano David Foster Wallace, nasceu no Brasil pesando 1,5 quilo. A dimensão tijolística não freou o interesse dos leitores, que ainda encaram a fama de impenetrável do romance. A primeira edição de Os miseráveis publicada pela Cosac Naify pesava cerca de 2 quilos. A segunda, para a alegria de quem não é halterofilista, foi dividida em dois volumes. Thomas Pynchon também é famoso pelos calhamaços: Mason & Dixon e Contra o dia pesam quase o mesmo que o livro de Wallace. Contrariando as expectativas, seu contingente de fãs só aumenta.

O fato é: carregar um calhamaço de um lado para o outro é difícil; consequentemente, ler na praia ou no transporte público passa a ser um desafio. Nada o impede de tentar, claro, e você certamente vai atrair um bocado de atenção se estiver segurando uma edição de Ulysses (1,39 quilo) enquanto toma sol estendido na areia. Mas atenção: quando retratou o estereótipo do hipster em uma publicação estrangeira, o cartunista Liniers pôs justamente um exemplar de Graça infinita debaixo do braço do sujeito, que também usava óculos de aros grossos e meias listradas.

De qualquer forma, a pergunta é: como segurar um calhamaço com dignidade? Ler sentado ainda é a melhor pedida. Se tiver uma mesa para apoiar, melhor (o bom é que você também pode apoiar um café). Se você for mulher, bem, é praticamente impossível ler na horizontal: os peitos sempre vão atrapalhar. Experiência própria. E, claro, você não está livre de derrubar o tijolo no pé, ou, se estiver deitado, no nariz.

Mas que os calhamaços têm suas vantagens, isso têm. Ser enorme, com exceção de Graça infinita, não é sinônimo de ser difícil. É sempre bom afundar numa trama e emergir muito tempo depois. A experiência de leitura é diferente, e o mergulho parece mais profundo. Se você está com os exercícios em dia, aposte nos excelentes Os luminares (Eleanor Catton, Biblioteca Azul, 1,1 quilo), Vida e destino (Vassili Grossman, Alfaguara, 1,3 quilo) e no clássico David Copperfield (Charles Dickens, Cosac Naify, 800 gramas). 

Duas séries de 20, e aí abaixe. Repita três vezes ao dia.

* Camila von Holdefer é crítica e editora do site www.livrosabertos.com.br

Livro 'Detox Já' une saúde com mente mis tranquila

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Um grito de alerta. É assim que Dóris Israel, médica homeopata do Rio de Janeiro, classifica seu livro, Detox já, que acaba de ser lançado pela editora Agir. A autora defende que existe um estilo de vida superficial e inadequado quando o assunto é saúde e alimentação.

As pessoas se alimentam de forma muito tóxica. A alimentação pesada as deixam mais raivosas e intolerantes, as afastam de sua postura emocional normal, diz Dóris. Com receitas alternativas para as refeições, o livro trata da importância da desintoxicação aplicada a um melhor estilo de vida. Seguir ao menos uma semana de alimentação mais leve tem entre seus efeitos uma maior clareza mental, bom humor e vitalidade. Além, é claro, da perda de peso.

Você deve fazer do alimento seu remédio, enfatiza a médica. A beleza exterior e a interior precisam estar sempre em equilibro.

A violência disruptora de ''Mad Max''

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''Mad Max: estrada da fúria'': fazendo a alegria dos fãs de filmes de ação pós-apocalípticos

Para a geração que cresceu nos anos 1980, o mito do herói solitário dos cinemas trocou a espada pela escopeta e o cavalo pelo automóvel. Não que caubóis, samurais e agentes secretos tivessem perdido o encanto, mas as novidades eram o Cobra Plissken de Fuga de Nova York ou o patrulheiro Mad Max pilotando seu V8 despedaçado nas planícies de uma Austrália pós-apocalíptica.

Eu era muito jovem quando assisti ao primeiro Mad Max (1979) e nos anos seguintes lembrei de pouca coisa além das cenas finais, em que Max Rockatansky se vinga dos delinquentes que assassinaram sua esposa e seu filho pequeno. A violência e os choques entre veículos eram marcantes para a época, mas o mais perturbador era a forma como o diretor George Miller cristalizava seu protagonista em um espectro amargurado. Depois de algemar o último bandido a um carro prestes a explodir, Max entrega-lhe um serrote, dá as costas e pega a estrada rumo ao horizonte da loucura. Revendo o filme recentemente, o que mais me chamou a atenção foi a concepção do cenário pós-apocalíptico. O mundo parece em vias de acabar, como se a verdadeira ruptura ainda não tivesse ocorrido. A polícia ainda tenta prender os bandidos como em qualquer lugar. Max leva a família para um retiro idílico à beira-mar. O clima é o de uma cidade longínqua de fronteira. Desolador, sim, mas ainda estamos na civilização.

A ruptura com nossa ideia de civilização se daria com o seminal Mad Max 2: a caçada continua (1981), tradução panaca para o original The Road Warrior. Aqui já não há sinais da civilização. Todos são mercenários procurando sobreviver de alguma forma num deserto efetivamente pós-apocalíptico, no qual a gasolina se tornou o bem mais precioso. Mel Gibson parece ter envelhecido uma década desde o filme anterior. É famosa a história: Gibson obteve o papel no primeiro filme, sua estreia no cinema, porque foi ao teste de elenco com o rosto detonado após uma briga de bar. No segundo filme, seu visual de lutador clandestino em trajes de couro ganha contornos míticos, ressaltados por uma noção algo cristã do flagelo físico como caminho para a redenção.

Podemos ligar o mundo de Mad Max 2 aos temores pós-Guerra Fria e à crise do petróleo, mas o longa sobrevive mesmo como pura experiência cinematográfica: é um dos mais eletrizantes e brutais filmes de ação já feitos e um marco de direção artística, com seus figurinos punk-sadomasô e veículos delirantes feitos de sucata. George Miller deu outro salto com Mad Max – Além da Cúpula do Trovão (1985). A ruptura aqui é com o realismo. O filme parece se inspirar em sucessos de aventura como Os caçadores da arca perdida. A cidade de Bartertown, liderada por Tina Turner, é um freak show medieval. O centro do filme é a tribo de crianças que sobrevive em um oásis depois de um acidente aéreo pré-apocalíptico. Elas elegem Max como seu improvável salvador, o que confere ao longa um humor tipo Sessão da Tarde. O filme carece da força e coesão narrativa dos antecessores, mas tem um furor criativo juvenil que merece respeito.

Pelo que se viu nos trailers, o quarto episódio da série, Mad Max: estrada da fúria, combinará a brutalidade e as perseguições de carro extremas do segundo filme com a imaginação do terceiro. É o suficiente para induzir frêmitos nos fãs de filmes de ação pós-apocalípticos. Se trouxer também algo parecido com a violência disruptora dos dois primeiros filmes, teremos um clássico.

Transnistria, Nagorno-Karabakh, Abkhazia e Ossétia do Sul: o clube dos não países

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Não é fácil criar um país novo. O processo pode envolver guerras, mortes, destruição. Além disso, há outro desafio: um país só existe quando é reconhecido por outros países.

Alguns têm um bom caminho andado, como Kosovo, que tem o selo de aprovação de 108 membros da ONU – apesar de a Sérvia contestar sua existência. Outros não têm tanta sorte, como Transnistria, Nagorno­­­-Karabakh, Abkhazia e Ossétia do Sul, que há anos funcionam como países, porém quase sem legitimidade internacional.

Esnobados pela maior parte do clube mundial de países — Abkhazia e Ossétia do Sul têm a aprovação de Rússia, Nicarágua e Venezuela; Transnistria e Nagorno- Karabakh de absolutamente nenhum —, os quatro resolveram criar o seu próprio grupo, a Comunidade para Democracia e Direitos das Nações, fundada em 2001, e se reconheceram mutuamente em 2006.

O Brasil não mantém relações diplomáticas com nenhum desses não países. Isso não impede, porém, um turista armado do passaporte nacional e de um smartphone de visitá-los. Mas, segundo o Itamaraty, apesar de não existirem restrições, a "assistência consular a brasileiros nesses locais poderia estar dificultada".

O processo pode ou não ser complicado.

Nagorno-Karabakh

Nagorno-Karabakh

Montanhosa e cheia de monastérios antigos, a república se declarou independente em 1991, depois do fim da República Soviética. Para entrar é preciso ir para a Armênia, de onde é possível pegar um ônibus. Isso é considerado ilegal pelas autoridades do Azerbaidjão – o visto azerbaidjano será negado eternamente ao turista que visitar o território.

Transnistria

Transnistria

Espremido entre Moldávia e Ucrânia, o território abriga a fábrica da Kvint, marca de conhaque famosa na ex-União Soviética, fundada em 1897. Entra-se pela Moldávia, país do qual a Transnistria se separou em 1990. Um visto de 24 horas é conseguido na fronteira.

Abkhazia

Abkhazia

Destino popular de férias na Rússia, a Abkhazia se separou da Geórgia em 1999. Tem praias no mar Negro e montanhas para a prática de esportes de inverno. O visto pode ser requisitado através de um formulário no site do Ministério Exterior do país – e é necessário também um visto russo de dupla utilização, para voltar à Mãe Rússia depois do passeio.

Ossétia do Sul

Ossétia do Sul

Também separada da Geórgia, em 1991, é acessível apenas pela Rússia e é preciso pedir autorização por e-mail (consul.mfa-rso@yandex.com), além do visto russo de dupla ou múltipla utilização. Mas atenção: Ossétia do Sul está em um cessar-fogo com a Geórgia agora, mas os países estavam em guerra há pouco tempo.

No Irã, de trem: atravessando um dos países mais fechados do mundo

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Alexandre Rodrigues

As montanhas nevadas são a primeira visão do Irã

As montanhas nevadas são a primeira visão do Irã

O trem chegou no fim da noite a Van, cidade que fica numa região montanhosa da Anatólia, noroeste da Turquia. Partiu 1 hora depois. A partir daí, a viagem no Trans Asia Express torna-se uma jornada por diversas rupturas. A primeira delas: Ancara, ponto de partida, reúne características da Europa e da Ásia, mas quando se cruza a fronteira com o Irã é como entrar em outro mundo.

O Trans Asia é um trem de turismo que liga a capital da Turquia a Teerã desde 2002. O caminho é o mesmo seguido pelo viajante Marco Polo (1254-1324) ao percorrer a antiga Rota da Seda até a China. Muito da paisagem milenar continua igual, mas o Irã é desde 1979 uma república islâmica e um dos países mais fechados do mundo. Quando o trem cruza a fronteira, as mulheres são obrigadas a cobrir os cabelos com o hijab, o véu islâmico. Já na primeira estação, em Razi, um grande painel do aiatolá Khomeini, líder da revolução iraniana, toma a vista.

Alexandre Rodrigues

O Trans Asia segue no Irã a mesma rota percorrida por Marco Polo

O Trans Asia segue no Irã a mesma rota percorrida por Marco Polo

Os iranianos são xiitas, vertente do islamismo mais radical do que a sunita, da maioria dos países árabes e da Turquia. Há 35 anos, em plebiscito, eles decidiram adotar a sharia, a lei islâmica. Dentro do país, seguem preceitos do tempo de Maomé, no século VII.

Do lado de fora, a paisagem muda. Terminam os desertos turcos e surgem vales com paredões de pedra e grandes montanhas cobertas de neve. A região, próxima do Azerbaidjão, é única em sua variedade e inclui ainda campos gelados de vegetação baixa, lagos e rios. Quando a civilização começa, há pastores de ovelhas e pessoas vivendo em casas feitas de barro e lama, como há milhares de anos, e dezenas de quilômetros de pedreiras e fábricas. Só depois de 8 horas se avista a primeira cidade: Tabriz.

Alexandre Rodrigues

Turistas francesas precisam cobrir a cabeça

Turistas francesas precisam cobrir a cabeça

Nas horas seguintes, há tempo para conhecer os outros passageiros. Um ex-expatriado conta que deixou o país na época da revolução e viajou pelo mundo durante três décadas, mas teve vontade de voltar. Um motorista sonha ser campeão de MMA e um grupo de estudantes franceses teme hostilidades por causa do atentado em Paris, em janeiro.

O desembarque em Teerã só ocorre depois de 28 horas – 66 horas para quem embarcou na estação inicial, Ancara. Cansados, os passageiros são recebidos por mais uma foto de Khomeini. O que causa a sensação de que este é o fim de uma viagem no tempo.

Alexandre Rodrigues

A paisagem inclui cidades antigas e campos gelados

A paisagem inclui cidades antigas e campos gelados

Como os drones vão revolucionar o jornalismo e o cinema

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Vista do drone: a ponte estaiada durante as manifestções de junho de 2013

Vista do drone: a ponte estaiada durante as manifestções de junho de 2013

Era junho de 2013 e eu ainda dirigia a TV Folha. Os protestos pela redução da tarifa de ônibus estavam se espalhando pelo país. As imagens da repórter Giuliana Vallone com o rosto ensanguentado após levar um tiro de elastômetro (bala de borracha) eram onipresentes nas redes sociais – e o protesto que aconteceria no dia seguinte prometia ser histórico. Era a oportunidade para que eu pusesse em prática um plano que vinha alimentando em minha cabeça há alguns meses: usar um drone em uma cobertura importante de hardnews.

No largo da Batata, milhares de pessoas se concentravam para sair em marcha em um dos maiores protestos já vistos em São Paulo quando o pequeno Phantom branco, equipado com uma câmera gopro e pilotado por Luis Neto, decolou de um posto de gasolina na avenida Faria Lima. Até então drones eram pouco conhecidos, e as reações de quem olhou para o céu naquela noite foram as mais diversas. Alguns acharam que eram alienígenas (um site de ufologia publicou matéria dizendo que um óvni fora visto sobrevoando as passeatas), outros acharam que era coisa da polícia. O mais encantado com aquilo, na verdade, era eu. Com o monitor de vídeo nas mãos, observava a multidão de um ângulo novo – e enxergava pela primeira vez a nova fronteira que se abria para o cinema e o jornalismo. Até aquele dia um drone nunca havia sido usado em uma cobertura jornalística no Brasil – e, até onde eu sei, no mundo. Essa cobertura foi um marco para a TV Folha, ganhamos o Prêmio Esso de Jornalismo e produzimos Junho, documentário lançado nos cinemas no ano seguinte. Foi ali que eu tive certeza de que nada mais seria como antes quando esses aparelhos se popularizassem.

O drone voa em uma altura que os helicópteros não alcançam, permite manobras impensáveis para qualquer outro tipo de equipamento de captação de imagens aéreas, passa dentro de janelas, vielas e é infinitamente mais barato do que todos eles – além, claro, de caber em uma simples mochila. Usado com criatividade é uma verdadeira revolução porque revela o mundo através de tomadas novas, nunca antes vistas. No cinema o que mais se aproximava do resultado da captação de imagens com drones eram as gruas, mas sempre com uma limitação de tamanho. Um take de drone passa a sensação de uma grua infinita. No jornalismo os usos também são inúmeros. Sem falar que o drone aumenta a segurança do repórter, que pode se expor menos para captar imagens melhores em lugares de alto risco, como zonas de guerra, incêndios etc. Recentemente, a empresa americana DJI sobrevoou com um drone a boca de um vulcão em erupção na Islândia a uma distância que nenhum ser humano suportaria, e fez imagens inacreditáveis.

As vantagens são muitas, mas a popularização dos drones também traz riscos, como invasões de privacidade. Normalmente a tecnologia chega antes e obriga os legisladores a correr atrás com seus passos lentos e desengonçados. Também por isso, creio que a regulamentação do uso de drones deve ser feita com urgência. Espero que nossos congressistas usem o bom senso e não burocratizem demais o processo de liberação do voo para que essas imagens de ângulos nunca vistos continuem chegando dos quatro cantos do país.

HQ de Bruno Maron mostra a vergonha dos tímidos


Como funciona a vergonha alheia

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Danilo Verpa

Há um ano, o Brasil levava 7 a 1 da Alemanha, nas semifinais da Copa do Mundo: vergonha maiúscula

Há um ano, o Brasil levava 7 a 1 da Alemanha, nas semifinais da Copa do Mundo: vergonha maiúscula

Charles Darwin era fascinado pelo rubor causado pela vergonha, que chamou de "a mais humana e peculiar das expressões". A alteração de circulação capilar que encantou o naturalista inglês pode se dar por muitas razões, inclusive quando somos apenas espectadores de uma cena embaraçosa – a conhecida "vergonha alheia".

Na década de 90, um grupo de cientistas italianos descobriu uma categoria de neurônios que estaria por trás de tal comportamento: os neurônios-espelho. Sobre eles, o doutor em ciências e professor do Programa em Neurociências da Universidade Federal Fluminense, Luiz Gawryszewski, explica: "A vergonha alheia é um reflexo do comportamento do outro. Todos os efeitos da observação provocam uma ativação subliminar".

Essa projeção é uma prática empática que age através dos neurônios espelho, que são ativados quando, em estado de atenção, observamos uma ação, intenção ou emoção; qualquer coisa que faça ou possa vir a fazer parte do nosso repertório de ações. É assim que memorizamos tarefas básicas – o porquê de não precisarmos aprender todas as manhãs a como escovar os dentes, por exemplo.

Ficamos constrangidos diante de um comportamento que podemos considerar grotesco socialmente, principalmente se praticado por uma pessoa que de alguma forma esteja ligada à nossa identidade social. Ao mesmo tempo, experimentamos a frustração de não podermos controlar as ações do "infrator" e, graças à autoprojeção provocada pelo neurônio-espelho, a ação do outro incomoda como um reflexo negativo de nossa própria imagem.

Por isso você quis sair correndo da sala há um ano, quando aconteceu o episódio conhecido como "7 a 1". Corremos.

Por que alguns financiamentos coletivos são bem-sucedidos e outros não

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Integrantes da banda paranaense Charme Chulo

Integrantes da banda paranaense Charme Chulo

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Para Tahiana D’Egmont, CEO da Kickante, fundada em 2013 e que captou cerca de R$ 4 milhões em mais de mil campanhas, "quanto melhor a divulgação para o universo de interessados, mais bem-sucedido é o financiamento". Elementos como um bom texto e boa representação visual do projeto também são importantes.

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Na plataforma Catarse, criada em 2011, ou o projeto bate a meta ou não recebe nada. A diferença entre uma campanha bem-sucedida ou não está no bom planejamento. Quem estuda o modelo e a plataforma, planeja bem e executa com dedicação tem mais chances. Daí o fato de que 90% dos R$ 29 milhões recebidos até hoje foram para 54% dos projetos. A faixa mais popular de apoio é entre R$ 20 e R$ 29 e o apoio médio por usuário é de R$ 141. Quanto melhor a recompensa, maior o valor apoiado.

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O financiamento coletivo é uma troca, e toda cota de apoio envolve uma recompensa, mesmo que seja uma contrapartida simbólica. Na música, costumam dar certo a pré-venda de CDs e DVDs novos, por chegar ao fã autografado e antes do mercado, além de experiências únicas como ir ao camarim ou jantar com o ídolo.

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Disco da banda Dead Fish

Disco da banda Dead Fish

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O público também precisa acreditar que é possível conseguir a grana dentro do prazo estipulado. "O projeto tem que ter o tamanho do artista. Uma boa ideia pode até chamar a atenção, mas precisa de respaldo", opina Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish. Sua banda precisava de R$ 60 mil para gravar o novo álbum, Vitória. Levantou R$ 260 mil.

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Para Leandro Delmonico, guitarrista da banda Charme Chulo, o segredo é ter fãs fiéis mesmo que em pequena quantidade. "Mas não é nada fácil convencer uma pessoa a parar o que está fazendo para ler a sua proposta, entrar no site, escolher uma recompensa e ainda pagar." Mesmo levantando R$ 30 mil para gravar um CD duplo, ele não pretende repetir a fórmula. "Não por birra, mas por manter aquele segredo bacana de um trabalho novo."

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Equipe do Catarse no festival CoCidade

Equipe do Catarse no festival CoCidade

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No esporte, a saltadora e campeã olímpica Maureen Maggi corria o risco de não participar das Olimpíadas de 2016 por falta de patrocínio para os treinos. Ela realizou uma campanha e, graças aos fãs, já confirmou a presença na competição. O projeto Fixando Raízes WimBelemDon, que integra crianças através do tênis em Porto Alegre, bateu o recorde para projetos do terceiro setor, arrecadando mais de R$ 275 mil. Um dos trunfoi foi conseguir padrinhos como Fernando Meligeni e Gustavo Kuerten. O espanhol Rafael Nadal e o escocês Andy Murrau doaram raquetes para serem usadas como recompensas.

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A pesquisa Retrato do Financiamento Coletivo no Brasil 2013−2014 apontou que educação é a categoria que as pessoas tinham mais interesse em apoiar, e ao mesmo tempo a que mais carece de projetos relevantes.

 

Entrevista com Boris Casoy sobre vergonha

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Boris Casoy

"Isso é uma vergonha. Isso é uma vergonha. Isso é uma vergonha." Foi assim, em dose tripla, que o famoso bordão surgiu, em 1988, pouco depois de seu criador, Boris Casoy, ter trocado os jornais impressos pela televisão. Como apresentador do TJ Brasil, no SBT, também ajudou a introduzir o comentário no jornalismo brasileiro. "Naquela época não havia opinião, era uma novidade", lembra. No papo a seguir, por telefone, Casoy conta a história da expressão mais célebre (e intensa) de nosso telejornalismo.

Lembra da primeira vez que falou "Isso é uma vergonha"? Foi no começo do Telejornal Brasil, no SBT. Foi exibida uma reportagem sobre um hospital no Recife. Era um pronto-socorro fétido, daqueles horrorosos, com pessoas pelo chão, uma coisa de filme de terror. Enquanto a matéria era transmitida, fiquei meditando. Lembrei de uma pequena emissora americana que, quando o Kennedy foi assassinado, parou suas transmissões e colocou em letras garrafais: shame (vergonha). Eu me lembrei disso e, quando a câmera abriu para mim, eu disse: "Isso é um vergonha", três vezes. Foi um impulso.

E o que aconteceu? As pessoas que dirigiam o jornal disseram que tinha sido uma agressão ao telespectador. Mas o telefone não parava, as pessoas dizendo: "O senhor soltou o grito que estava na minha garganta".

Como decide quando usar? Não uso para questões morais. É sempre sob o aspecto da indignação. Esse "é uma vergonha" tem uma relação direta com a indignação. Decido colocar quando sinto isso.

Quais as coisas mais vergonhosas que já noticiou? São tantas que tenho medo de omitir algumas [risos].

Ainda temos muitas coisas pra nos envergonhar? Eu acho que, infelizmente, o bordão não vai acabar. Quando eu paro, recebo e-mail, telefonema de alguém reclamando que não falo mais. Quer dizer, a expressão, nesses 20 e poucos anos de televisão, não perdeu força.

E na vida pessoal, já passou vergonhas? Claro, eu sou um ser humano. Até na televisão, claro que sim.

E qual foi a maior? Ah, também não quero mencionar [risos].

''Shame'', da artista sul-africana Penny Siopis: vergonhas no papel

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Penny Siopis

Penny Siopis

A vergonha – como sentimento público e como condição privada – é o tema de Shame, uma série da sul-africana Penny Siopis com mais de cem obras de formato pequeno, que às vezes são exibidas em conjunto, formando uma grande peça. "A vergonha envolve nudez psicológica, exposição, humilhação, mágoa, culpa e constrangimento profundo", escreve Siopis no texto de apresentação do trabalho, de 2004. "Mas há também uma outra dimensão da vergonha que me interessa: em seu mais profundo desespero, a vergonha pode nos oferecer o potencial para a empatia." No seu país, a artista conta, a palavra "vergonha" é usada coloquialmente como uma expressão de simpatia e identificação com a dor pública de outras pessoas. Siopis nasceu em 1953 em Vryburg, no interior da África do Sul, e é professora honorária na Faculdade de Belas Artes da Universidade da Cidade do Cabo. 

Vai lá bit.ly/penny_siopis

As sete maiores vergonhas do Brasil, por Lilia Schwarcz e Heloisa Starling

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Reprodução

ed Companhia das Letras

No livro, com acesso a documentação inédita e vasta pesquisa, as autoras traçam um retrato completo do país. Dão conta não somente da "grande história" mas também do cotidiano, da expressão artística e da cultura, das minorias, dos ciclos econômicos e dos conflitos sociais. E, claro, falam também sobre os momentos tensos, de vergonha.

São eles:

1 — Genocídio da população indígena

Índios

Até os dias de hoje há controvérsia sobre a antiguidade dos povos do Novo Mundo. As estimativas mais tradicionais mencionam 12 mil anos, mas pesquisas recentes arriscam projetar de 30 mil a 35 mil anos. Sabe-se pouco dessa história indígena, e dos inúmeros povos que desapareceram em resultado do que agora chamamos eufemisticamente de "encontro" de sociedades. Um verdadeiro morticínio teve início naquele momento: uma população estimada na casa dos milhões em 1500 foi sendo reduzida aos poucos a cerca de 800 mil, que é a quantidade de índios que habitam o Brasil atualmente.

2 — Sistema escravocrata

Escravos

O Brasil recebeu 40% do total de africanos que compulsoriamente deixaram seu continente para trabalhar nas colônias agrícolas do continente americano, sob regime de escravidão, num total de cerca de 3,8 milhões imigrantes. Fomos o último país a abolir a escravidão mercantil no Ocidente (só o fazendo em 1888, e depois de muita pressão) e o resultado desse uso contínuo, por quatro séculos, e extensivo por todo o território foi a naturalização do sistema. Escravos eram abertamente leiloados, alugados, penhorados, segurados, torturados e assassinados. 

3 — Guerra do paraguai

Paraguai

O Império brasileiro errou em cheio. Avaliou-se que a contenda internacional opondo, de um lado, Brasil, Uruguai e Argentina, e, de outro, o Paraguai seria breve e indolor. No entanto, a guerra – na época chamada de "açougue do Paraguai" ou de "tríplice infâmia" – durou cinco longos e doloridos anos: de 1865 a 1870. A consequência para o lado paraguaio não foi apenas a deposição de seu dirigente máximo, mas a destruição do próprio Estado nacional. Os números de mortes sofridos pelo país são até hoje controversos e oscilam entre 800 mil e 1,3 milhão habitantes. Quanto às estatísticas brasileiras, a relação de homens enviados varia de 100 a 140 mil. 

4 — Canudos

Canudos

Em 1897, a República abriu guerra contra Canudos: uma comunidade sertaneja originada de um movimento sóciorreligioso liderado por Antônio Conselheiro. Canudos incomodou o governo da República e os grandes proprietários de terras, pois era uma nova maneira de viver no sertão. Em 1897, o arraial foi invadido por tropas militares, queimado a querosene e demolido com dinamite. A população foi dizimada. Em Os sertões, publicado em 1902, Euclides da Cunha escreve: "Canudos não se rendeu. Caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, e todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados". 

5 — Polícia política do Governo Vargas

Vargas

Em 1933, Getúlio Vargas criou a Delegacia Especial de Segurança Política e Social (Desp). Para comandá-la, Vargas entronizou o capitão do Exército, Filinto Müller. Na condição de chefe de polícia, Müller não vacilou em mandar matar, torturar ou deixar apodrecer nos calabouços do Desp os suspeitos e adversários declarados do regime sem necessidade de comprovar prática efetiva de crime. Pró-nazista, sua delegacia manteve um intercâmbio, reconhecido pelo governo brasileiro, com a Gestapo – a polícia secreta de Hitler – que incluía troca de informações, técnicas e métodos de interrogatório. 

6 — Centros clandestidos de violação de direitos humanos

Ditadura

A ditadura militar instalou, a partir de 1970, centros clandestinos que serviram para executar os procedimentos de desaparecimento de corpos de opositores mortos sob a guarda do Estado – como a retirada de digitais e de arcadas dentárias, o esquartejamento e a queima de corpos em fogueiras de pneus. No Brasil governado pelos militares, a prática da tortura política e dos desaparecimentos forçados não foi fruto das ações incidentais de personalidades desequilibradas, e nessa constatação reside o escândalo e a dor. 

7 — Massacre do Carandiru

Mais conhecida como Carandiru, a Casa de Detenção de São Paulo abrigava mais de 7 mil detentos, em 1992 – a capacidade oficial era de 3.500 pessoas. No dia 2 de outubro, uma briga entre facções rivais de presidiários terminou num massacre: a tropa policial entrou no presídio utilizando armamento pesado e munição letal. 111 presos foram mortos e 110 feridos. O cenário era de horror. Passados 21 anos, somente em 2014, 73 policiais foram condenados – todos podem recorrer em liberdade. 

Amor e cadeados: A nossa Pont des Arts

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Rafael Antunes

Tem muito espaço ainda para cadeados na versão curitibana da ponte do amor

Tem muito espaço ainda para cadeados na versão curitibana da ponte do amor

Na ponte, o casal fecha o cadeado na grade de proteção, dá um beijo para selar o amor e joga a chave nas águas que correm metros abaixo. Não, não estamos na Pont des Arts, em Paris, mas em Curitiba, Paraná. Sai o Sena, entra o rio Barigui.

Com a retirada dos cadeados da Pont des Arts há cerca de dois meses – eram mais de 50 toneladas de metal, que chegaram a ameaçar a estrutura da ponte –, milhares de apaixonados ficaram órfãos. A única saída, agora, será arranjar um cadeado e rumar, o coração palpitando, até o Parque Barigui, em Curitiba.

De um ano pra cá, já são muitos os cadeados presos à ponte que corta o parque, constantemente vigiados pelas capivaras que vivem no local.

No dia que a reportagem da Trip esteve por lá, o casal Camila Souza, 24 anos, e Tiago Souza, 25, havia enfrentedao o vento gelado do outono curitibano para selar a paixão eterna na ponte do amor, como já é conhecida na cidade. Quando questionados sobre o porquê da escolha pelo cadeado no parque, Camila lembrou de que foi ali o primeiro encontro deles, há três meses.

O peso ainda não ameaça, mas a equipe de engenharia da prefeitura da cidade já está de olho. De acordo com os cálculos, a estrutura suporta até 4 mil quilos de amor distribuídos ao longo dos pouco mais de 20 metros da ponte. O equivalente a 77,2 mil cadeados de tamanho médio. Se Shakespeare ressurgisse às margens do rio Barigui, seu Romeu já poderia encontrar ambiente propício para seu célebre verso-cadeado: “Sob o peso ingente deste amor, pereço”.

Conheça o trabalho de Caio Leska, que ilustra as colunas desta edição

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“Cor para mim é verão e, já que enxergo diferente de todo mundo, queria lançar o verão a partir do meu olhar”, conta. “Unir cores e ideias e lançar os objetos que farão sucesso no verão de 2020, quando ar-condicionado nenhum dará conta do calor. Essa é a ideia.” Leska começou a desenhar ainda criança, tentando copiar seus personagens favoritos dos desenhos animados. Hoje, ele gosta de “distorcer a realidade de um jeito que me diverte”. “E o mais legal é quando o trabalho fica pronto e vejo as pessoas interagindo, tentando fazer o processo de adivinhar a cabeça do artista”, diz.

Vai lá leska.com.br


Truvada: o remédio que pode impedir a contaminação pelo HIV

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Keith Haring/Reprodução

Keith Haring (1958-90) dá o recado em Ignorance = fear, silence = death, obra de 1989

Keith Haring (1958-90) dá o recado em Ignorance = fear, silence = death, obra de 1989

Até o dia em que pisei fora do armário, Aids nunca foi uma real preocupação para mim. #HIV não era trending topic nos papos com meus compadres universitários, no interior de Minas. Com os avanços da medicina no tratamento dos portadores, e uma certa síndrome de super-homem (a que diz “não vai acontecer comigo”), a preocupação em contrair o vírus, que já era pouca, foi sumindo do horizonte da geração Y. 

A questão que ocupava a minha cabeça, de meus amigos e de nossas namoradas, ao longo daqueles semestres, era: “será que estamos grávidos?”. Nunca senti medo de qualquer doença sexualmente transmissível. Terminei a faculdade e me mudei para São Paulo. O namoro acabou, me assumi gay e o medo ocasional de me tornar um pai de família foi substituído pela constante sombra da Aids: nunca mais fiz sexo sem pensar que poderia ser infectado. 

Não me orgulho, mas também não me envergonho, de dizer que não sei exatamente com quantos caras fiquei no primeiro ano que vivi em São Paulo. De uma coisa, no entanto, sempre soube: a cada dez caras com quem transei, pelo menos um poderia ser portador do vírus. Dados do fim do ano passado do Ministério da Saúde mostraram que a prevalência do HIV entre Homens que fazem Sexo com Homens (HSH) permanece em 10%. Mesmo assim, não é costume entre nós fazer o chamado controle do risco: perguntar, antes de transar, a todos parceiros e parceiras qual o status para HIV. 

Se alguém lhe perguntasse agora, você saberia responder? Ficaria ofendido? Quando foi a última vez que você se testou?

A primeira vez que ouvi falar em Truvada foi em reportagens da imprensa americana, ainda em 2012 – quando um novo protocolo de prevenção à Aids havia acabado de ser aprovado pela FDA, agência regulatória de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos. O remédio não é novo: a dupla de compostos tenofovir e emtricitabina foi sintetizada pela primeira vez pelo laboratório Gilead em 2004, e já era usada desde então em conjunto com outros antirretrovirais para o tratamento de portadores do HIV em várias partes do mundo.

Chamado Pre-Exposure Prophylaxis, em português Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), o novo método atestava que tomar um comprimido por dia do tal remédio impedia, de forma altamente eficaz, a soroconversão de quem não tem o vírus. É como uma camisinha em nível celular, que impede o vírus de se reproduzir em uma pessoa não portadora. Eu queria tomar. Tive a dúvida que muita gente tem: tomar um remédio todo dia para não ter que tomar remédio todo dia faz sentido? Faz. 

O estudo original que propôs a PrEP diária é chamado iPrEx e testou a eficácia do método com não portadores de HIV em seis países, incluindo o Brasil. Entre 2007 e 2009, o estudo contou com 2.499 voluntários de alto risco de contágio, homens e mulheres trans que fazem sexo com homens. Metade dessas pessoas receberam o Truvada, e a outra metade um placebo. Todos foram acompanhados com orientação psicológica e testes constantes para monitorar a saúde. O resultado? Redução de até 43% de novas infecções em toda a amostra. Mais recentemente, estudos como o Ipergay (www.ipergay.fr), realizado na França, e o  Proud (www.proud.mrc.ac.uk), da Inglaterra, registraram resultados ainda melhores: até 99% entre os que tomaram corretamente o remédio.

Minha família, amigos e todos com quem converso sobre o assunto me questionam se vale a pena. Devolvo com uma pergunta simples: vocês sabem o que é, sempre, a cada dia, transar com medo?

 

Foi então que o Ministério da Saúde encomendou a pesquisa PrEP Brasil. Diferente do iPrEx, que testou a eficácia da profilaxia pré-exposição, o estudo agora investiga o impacto social que a adoção do protocolo teria em nossos segmentos de risco. Os participantes recebem o Truvada e são monitorados há um ano por três centros de pesquisa de ponta no país: o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, a Faculdade de Medicina da USP e o Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, esses em São Paulo. Cerca de 550 voluntários nas duas capitais participam da pesquisa desde junho de 2014. Eu sou um deles.

Minha família, amigos e todos com quem converso sobre o assunto me questionam se vale a pena. Devolvo com uma pergunta simples: vocês sabem o que é, sempre, a cada dia, transar com medo? As reportagens que li sobre o tema e os médicos com quem conversei relatam que a PrEP tem funcionado também como mais uma ferramenta de emporaderamento para nossas populações estigmatizadas, marcadas pelo vírus. Além disso, casais sorodiscordantes (em que um membro possui o HIV e outro não) se sentem mais confortáveis no sexo, e no futuro mulheres poderão ter uma nova opção para prevenir o HIV também.

Efeitos colaterais como tonturas, diarreias e dores de cabeça foram de fato registrados em alguns casos, sempre nas primeiras semanas de tratamento até o organismo se acostumar com o medicamento. Eu mesmo nunca senti nada. Alguns amigos, sim. Um outro efeito, esse de longo prazo, seria um desgaste dos rins – mesmo efeito que qualquer remédio de uso crônico pode causar. Frente a isso, todo paciente de Truvada e outros medicamentos de uso prologando – calmantes, inclusive – faz exames regulares para monitoramento. É o que eu e os voluntários fazemos na pesquisa. Inclusive para outras DSTs também.

Desde que entrei no estudo, tenho acesso a um pote com 30 compridos por mês e tomo todos os dias. Em outubro, durante meu processo de inclusão, fiz uma imensa bateria de exames, conversei com psicólogos, médicos e trimestralmente retorno ao Hospital das Clínicas para aconselhamento, mais exames, questionários, novos potes de comprimidos, além de lubrificante e preservativos. Sim: camisinhas. Desde o início sou lembrado constantemente de que o medicamento não é um substitutivo e sim um método de prevenção complementar para um momento específico da vida. 

Sempre ouvi relatos de caras que não conseguem fazer sexo com camisinha: alguns têm alergia, outros não conseguem ereção e tem quem simplesmente odeie mesmo. Não é o meu caso. A diferença é que, entre heterossexuais, a maior preocupação continua sendo uma gravidez indesejada. O que percebi nesses nove meses é que o objetivo da PrEP é também que quem tem acesso aos comprimidos reveja comportamentos sexuais, o próprio e o dos parceiros. Com esse depoimento talvez eu faça você rever o seu. Faça o teste. Saiba o seu status e o de quem você transa. Independente da orientação, identidade, fetiche, time, whatever sexual você seja.

O Brasil está em posição única no mundo para dar mais um salto no combate a Aids. Graças ao nosso premiado sistema de distribuição gratuita de anti-retrovirais extremamente capilarizado, o governo estuda incluir a PrEP como parte do acervo gratuito de prevenção a doença. Segundo Fábio Mesquista, diretor nacional do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, os próximos passos para dar acesso ao método já foram dados. Além do Gilead, outros laboratórios fizeram seus pedidos para a inclusão da PrEP nos registros de seus medicamentos por aqui – inclusive genéricos. 

“Cientificamente não se discute mais se funciona ou não funciona. A evidência é óbvia. Funciona. Estamos pesquisando a aceitabilidade e a viabilidade da distribuição”, diz Fábio. Com os primeiros resultados da pesquisa previstos para o fim deste ano, uma série de comissões com especialistas técnicos devem produzir relatórios para regulamentar a comercialização dos compostos no Brasil já em 2016. “Os preços variam, mas é um custo-benefício extraordinário”, garante. Se tudo caminhar como previsto, seremos possivelmente o primeiro país do mundo a implantar o método como política pública. 

Já para a coordenadora do PrEP Brasil, Beatriz Grinsztejn, da Fiocruz, nenhuma estratégia de prevenção sozinha é capaz de controlar a epidemia no país. É aí que entra a PrEP, como mais uma arma nessa batalha. “Até o momento, com pouco mais de um ano de estudo, o PrEP Brasil não registrou nenhuma soroconversão”. Novas inclusões de voluntários foram feitas até o mês passado, e até o fim do ano serão divulgados os primeiros resultados oficiais do estudo.

ESSA TAL SOFRÊNCIA

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Pablo, o rei da sofrência

Pablo, o rei da sofrência

Tão importante quanto o amor, na música brasileira, são as dificuldades do amor – as traições, os abandonos. Toda uma parte do cancioneiro nacional é dedicada à boa e velha dor de cotovelo, ou à fossa, como se dizia na época mais melancólica do samba-canção.

Hoje, quem cuida de manter o sentimento vivo é uma vertente do arrocha conhecida como “sofrência”, neologismo criado unindo as palavras sofrimento e carência. E na sofrência, Pablo, a Voz Romântica, é realeza por aclamação.“Certa vez, em um show no interior da Bahia, tinha um cartaz: Pablo, o Rei da Sofrência. Achei o máximo”, conta. “A sofrência é aquela boa dor de amor, de ouvir canções que falam do amor, que machucam.”

Sucesso do último Carnaval, o hit “Porque homem não chora” dominou as paradas populares: das rádios melosas às ruas de comércio informal, só se ouve Pablo. O arrocha agora chegou também à Rede Globo, como trilha da novela I love Paraisópolis. “Homem chora, sim. Claro que chora. Quem nunca sofreu por aquele amor que foi deixado?”, questiona o autor da canção, que tem feito até marmanjos marejarem em seus shows.

 Natural de Candeias, na Bahia, Pablo se chama Agenor Apolinário dos Santos Neto e canta profissionalmente desde a infância. No início dos anos 2000, quando integrava o grupo Asas Livres, criou o ritmo que ficou conhecido como arrocha, uma reinvenção do brega, mais lento e sensual, com toques de forró e teclados eletrônicos. O arrocha logo dominou os bailes da periferia baiana, com diversos artistas dedicados ao gênero.

Foram quatro discos com o grupo até Pablo partir para a bem-sucedida carreira solo em 2010. O cantor soma mais de 2 milhões de likes em sua página oficial do Facebook e realiza em média 25 shows por mês. “As pessoas se identificam muito, porque eu canto o amor que é realmente vivido”, diz. “Não importa o rótulo, é o amor o responsável.”

Apesar do repertório, do sucesso e do assédio das fãs, Pablo está feliz ao lado da mulher, com quem se casou aos 15 anos. É muito amor.

Sério 'Filhos do Hawaii' mostra filhos de surfistas brasileiros

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Filhos do Hawaii

"Esses garotos vivem para pescar, caçar, lutar e surfar." É assim que Bruno Lemos descreve a rotina dos personagens que escolheu com Kleber Pires para Filhos do Hawaii, série que vai mostrar a primeira geração de descendentes de brasileiros que vivem no arquipélago americano. "Um estilo de vida completamente relacionado com a natureza em um dos lugares mais incríveis do planeta", completa. Surfistas, Bruno e Kleber, de 44 e 45 anos, dividem a direção do programa, que estreia no começo de 2016, no canal Off.

Os primeiros brasileiros que chegaram no Havaí, na década de 70, vieram atraídos pelo surf. "Os filhos desse grupo têm hoje mais ou menos a mesma idade e vivem da mesma forma que os locais", afirma Bruno. Ou seja: mergulhar e surfar ondas gigantes, além de caçar javalis, é parte da rotina. "Eles cresceram vendo as maiores e mais perigosas ondas do mundo, tendo que provar para si e para os amigos que podem desafiar essas ondas e se impor como garotos fortes e corajosos", diz o diretor.

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Filhos do Hawaii

São jovens como os irmãos Kiron e Kalani, filhos de João Jabour, brasileiro radicado no Havaí; Ryan de Seixas, filho de Horácio de Seixas – primo do eterno Raul Seixas –; Kona Olivera, filho do salva-vidas Cezar Oliveira; e, como não podia faltar, Kaele Lemos, filho de Bruno. "Começamos as gravações no inverno passado. Eu, o Bruno e os garotos interagimos juntos na produção", diz Kleber, que também dirigiu o documentário Caçadores de ondas grandes.

A primeira temporada de Filhos do Hawaii tem 13 episódios e promete, além de histórias de amor pelo surf e do cotidiano da vida havaiana, imagens de tirar o fôlego, com câmeras de alta qualidade e super slow motion. "Daremos ênfase a imagens aéreas", diz Kleber. "O Ryan Seixas será o responsável por isso, operando um drone."

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Filhos do Hawaii

Sobra emoção também para os pais. "Eu sempre imaginava, sonho de criança, como seria o Havaí, como seria crescer lá e surfar sendo local", diz João Jabour, sobre ver os filhos vivendo no North Shore. "É emocionante. Hoje em dia os meninos que cresceram no Havaí se tornaram tudo aquilo que eu imaginava quando criança."

Essa tal sofrência, do cantor Pablo

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Pablo, o rei da sofrência

Pablo, o rei da sofrência

Tão importante quanto o amor, na música brasileira, são as dificuldades do amor – as traições, os abandonos. Toda uma parte do cancioneiro nacional é dedicada à boa e velha dor de cotovelo, ou à fossa, como se dizia na época mais melancólica do samba-canção.

Hoje, quem cuida de manter o sentimento vivo é uma vertente do arrocha conhecida como "sofrência", neologismo criado unindo as palavras sofrimento e carência. E na sofrência, Pablo, a Voz Romântica, é realeza por aclamação."Certa vez, em um show no interior da Bahia, tinha um cartaz: Pablo, o Rei da Sofrência. Achei o máximo", conta. "A sofrência é aquela boa dor de amor, de ouvir canções que falam do amor, que machucam."

Sucesso do último Carnaval, o hit "Porque homem não chora" dominou as paradas populares: das rádios melosas às ruas de comércio informal, só se ouve Pablo. O arrocha agora chegou também à Rede Globo, como trilha da novela I love Paraisópolis. "Homem chora, sim. Claro que chora. Quem nunca sofreu por aquele amor que foi deixado?", questiona o autor da canção, que tem feito até marmanjos marejarem em seus shows.

Natural de Candeias, na Bahia, Pablo se chama Agenor Apolinário dos Santos Neto e canta profissionalmente desde a infância. No início dos anos 2000, quando integrava o grupo Asas Livres, criou o ritmo que ficou conhecido como arrocha, uma reinvenção do brega, mais lento e sensual, com toques de forró e teclados eletrônicos. O arrocha logo dominou os bailes da periferia baiana, com diversos artistas dedicados ao gênero.

Foram quatro discos com o grupo até Pablo partir para a bem-sucedida carreira solo em 2010. O cantor soma mais de 2 milhões de likes em sua página oficial do Facebook e realiza em média 25 shows por mês. "As pessoas se identificam muito, porque eu canto o amor que é realmente vivido", diz. "Não importa o rótulo, é o amor o responsável."

Apesar do repertório, do sucesso e do assédio das fãs, Pablo está feliz ao lado da mulher, com quem se casou aos 15 anos. É muito amor.

A história da tirinha Amar é...

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Reprodução

Tirinha Amar é

Há uma história romântica por trás do icônico casalzinho pelado que explicou para os jovens do final do século 20 o que era o amor: o desenho foi criado pela neozelandesa Kim Grove, em 1967, para seu então namorado e futuro marido, o italiano Roberto Casali. Kim escondia os desenhos para que Roberto encontrasse sem querer. 

Um pouco depois, em 1970, a tirinha começou a ser publicada e virou sucesso mundial. Também no Brasil, as figuras podiam ser vistas em jornais, dos quais casais apaixonados (e seus pais) as recortavam.

No auge da popularidade, os desenhos eram publicados em mais de 60 países e rendiam US$ 7 milhões por ano para o casal, mas já não eram fruto do traço original de Kim, embora continuassem levando sua assinatura – Roberto teve câncer alguns anos depois da primeira publicação, e Kim parou de trabalhar para ficar com ele. Desde 1975, quem faz os desenhos diários é o inglês Bill Asprey.

Stefano Casali, o filho mais velho do casal, assumiu a direção da empresa do amor depois da morte da mãe, em 1997. Eles não têm site para fãs, que “será feito no futuro” – o único endereço oficial é para informações de licenciamento –, mas os amantes podem baixar o app Love is… em seus iPhones. Pelo aplicativo, é possível comprar coleções especiais. E, claro, espalhar o amor, completando a frase que, até hoje, encontra eco em nossos corações: Amar é...

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